sábado, 13 de fevereiro de 2010

BREVE SUSSURRO DO VENTO




A renúncia, a resignação e a tolerância ante fatos e acontecimentos surpreendentes que contrariam nossos objetivos e aspirações também são, no espaço e no tempo, um Gesto de Amor.
As flores que a vida se incumbiu de esculpir em nosso rosto desfigurado, florescem como pétalas de rosas-vermelhas em nosso eu interior. Coração e alma fundem-se no mesmo regozijo.
Ao longo das vivências nos caminhos da vida, viajante no tempo, não consegui, ainda, detectar nenhum cirurgião-plástico das cicatrizes da alma e do coração.
O homem é um ser dual. A condição humana é frágil e mutante. E, maravilhosamente cósmica. Existe a polaridade intercalada de luminosidade e escuridão. Há espaços para o paradoxal. Discernimento é o ponto de mutação, o divisor de águas. O encontro de idéias, a revelação de metas.
O yin e o yang coexistem pacificamente. São imprescindíveis entre si; interligam-se, polarizam-se, completam-se em opostos ângulos.
A vastidão do mar em sua beleza transcendental nos proporciona uma aprazível sensação de quietude, paz e serenidade. Não raro, aguçamos vivamente nossos sentidos objetivos e nos comunicamos com o Ser Supremo, através da sinfonia sussurrante, mistura de sal, água, espuma, brisa, vento e maresia.
A experiência humana consiste, essencialmente, na dualidade onipresente na natureza do ser, nas coisas imutáveis e imperecíveis. Não existe perfeição e plenitude entre o céu e a terra. É necessário estarmos preparados para a aceitação dos focos de luz e do negro véu das sombras para atingirmos uma etapa mais elevada de sabedoria e amor que resulta na paz profunda.
O ser humano vive um espaço-tempo mínimo, nele questiona e absorve experiências vitais ou não... E não há regra geral de princípio, meio e fim, ao longo do aprendizado. Às vezes retrocedemos, outras avançamos na escalada da incerteza e da purificação. Ninguém, até hoje, teve convicção de tudo que nos cerca, deprime, surpreende e angustia, definitiva e verdadeiramente.
Somos, portanto, buscadores atemporais e seguidores eventuais de uma suposta felicidade plena. Alguma dúvida, sem sombra de dúvida, há de acompanhar nossos rastros no tempo em todas as estradas, até a última morada: refúgio definitivo e insofismável de cicatrizes e ossos e, depois, cinzas na dança ao vento...
Crescemos psíquica e fisicamente. Encontramos o caminho da mesma maneira que o perdemos quase inteiramente. Necessário se faz acreditar nos raios bruxuleantes da aura que envolve e une os seres, viabilizando insólitos contatos. Chegadas e partidas...
Em qualquer altiplano a nossa personalidade-alma encontra eco e obtém sinais reveladores. Impregnados da essência da realidade somos conduzidos para a mística que visualiza os fragmentos da utopia que compõem a valsa da vida, a dança ao vento, e a face silente e diáfana do "viver em harmonia na fonte da Luz", que expulsa e elimina qualquer resquício de sombra.

(Eugenio Santana, FRC.)

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