quinta-feira, 14 de abril de 2011

TEM MAIS PRESENÇA EM MIM O QUE ME FALTA...




Creio que o meu alter-ego Fernando Pessoa teve inúmeros choros semelhantes com o choro de minha filha Nuria Liz. E foi para explanar a ausência de motivações dos seus choros que ele escreveu:

O que me dói não é
o que há no coração
mas essas coisas lindas
que nunca existirão...

Ri - e chorei muito - ao reler, depois de algum tempo, "A Sombra do Vento", "Verdes Moradas" e "Neuroforia". E sempre chego às lágrimas ao ler os poemas da poeta portuguesa Florbela Espanca. Por que rimos e choramos por aquilo que não existe, aquilo que é ilusão?
A resposta é óbvia: choramos e sorrimos porque a alma é feita com o que não existe, é latente; invisível, oculta. Coisa que só os artistas sabem.
"Somos feitos da mesma matéria dos nossos sonhos", dizia Shakespeare. E mais: concordo com o meu amigo poeta de Mato Grosso, Manoel de Barros: "Tem mais presença em mim o que me falta". E completo com Miguel Unamuno:

Recorda, pois, ou sonha, alma minha
- a fantasia é tua substância eterna -
o que não foi;
com tuas figurações faze-te forte,
que isso é viver, e o restante é morte.

As estórias são flores-estrelas que a imaginação fértil faz crescer no lugar da DOR. Minha literatura cresce a partir das dores de minha filha, que eram minhas próprias dores. Por isso, disse que comecei a escrever a partir dos 16, porque aos 11, nos primeiros anos escolares, me foi revelado esse Dom natural que, por via de consequência, se transformou numa "missão de vida".

Atenuar a DOR ou curá-la, isso o mundo desigual e caótico pode fazê-lo.
A inspiração e a imaginação são a ARTISTA QUE TRANSFORMA o sofrimento lancinante em BELEZA. E a beleza torna a DOR tolerável. Em vista disso, ESCREVO poemas, crônicas, contos, ensaios e artigos há mais de 25 anos: para concretizar a alquimia da PALAVRACESA; transformar dor em flor. Meus escritos são as minhas poções mágicas...
Não existe contra-indicações nem é necessário receitas...

(EUGENIO SANTANA é escritor e jornalista. Atualmente, Jornalista/Revisor do jornal "DIÁRIO DA MANHÃ". E membro efetivo da ALNM - Academia de Letras do Noroeste de Minas Gerais, cadeira número 2.)

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