segunda-feira, 25 de julho de 2011

MANAUS: MEU INFERNO ASTRAL?!





Manaus não confirma nem se afirma, nem de longe, o título de cidade-sede da, digamos, Floresta Amazônica. É sim, uma selva de pedra dentro do estado do Amazonas sem qualquer sintonia compatível com a Amazônia e seus polêmicos conflitos de preservação ambiental e controvertidas questões indígenas mal resolvidas.

A impressão que se tem é a de uma cidade grande como outra qualquer, que cultua o hedonismo, o capitalismo “selvagem” já que possui um dos maiores parques industriais da América Latina, a guerra de classes elitista, sedentária e viciada em Shoppings. Aliás, por ser uma cidade de calor insuportável, a classe média e alta se refugia nos shoppings com o viciado ar refrigerado.

No dia 9 de abril passado fui, num vôo matutino da TAM, conhecer Manaus, por motivos profissionais equivocados.

Quando o comissário de bordo anunciou o nosso pouso no Aeroporto de Manaus, antes, porém, havia avisado que estávamos passando por uma área de turbulência e lá do alto, antes da aterrissagem, visualizei as águas noturnas do insólito Rio Negro, pressentindo que minha estadia na famigerada Manaus seria caótica e desastrada; uma temporada no Inferno, lembrando Jean-Nicholas Arthur Rimbaud.

Nos bairros periféricos, como o do Aleixo, por exemplo, você depara com cenas “hilárias e degradantes”: um bando de urubus disputando o lixo das calçadas com uma dezena de cães vira-latas e mais adiante na Avenida do mesmo bairro onde proliferam concessionárias de automóveis, incluindo a Citröen, na qual já fui Consultor de Marketing, da filial Anápolis; está instalada a sede da principal mídia impressa, o jornal “A Crítica”, e à noite – por ironia – de frente à sede do jornal acontece o trottoir de meninas aparentando de 12 a 15 anos, confirmando nitidamente a prostituição infantil, que envergonha esse País de gritantes contrastes e injustiças sociais.

Quando você questiona sobre os índios eles comentam com indisfarçável desdém: aqui na cidade não existe índio, os índios estão na selva, na floresta, nas reservas. Passam a impressão que têm pré-conceito de sua própria origem...
E o manauara não é um exemplo de cidadão cordial, aberto ao diálogo, interativo. São fechados e não gostam de dar informação e são declaradamente rivais dos paraenses, deitam falação nas pessoas de Belém que, por razões de empregabilidade, migram para Manaus, buscando oportunidade de trabalho no pólo industrial de eletroeletrônicos.
E conversando com uma amiga, promotora de justiça, ela informou-me que a Região Norte é campeã em trabalho escravo. Senti isso na pele, durante o meu período de “treinamento” em Manaus. Um exemplo vivo de escravocracia, versão 1883.

Unanimidade inquestionável e previsível digna de registro na Manaus de múltiplas faces é que a cidade inteira torce pelo Flamengo, do Rio. E eu também, desde 1975, ao assistir no Maracanã um histórico Fla x Flu protagonizado por Zico, Júnior, Adílio, Andrade, Nunes, goleiro Raul, entre outras feras. Um simples anúncio de que o Flamengo vai jogar, a cidade se agita e veste-se de rubro-negro. E quinhentos mil celulares da operadora TIM não param de tocar... E haja blá blá blá...

Concernente à Arquitetura dos bairros nobres e do setor central é digna de registro: ganha de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Campo Grande e Belo Horizonte; os edifícios são imponentes, de uma criatividade indescritível e de rara beleza. Não sei se tem o dedo de Oscar Niemayer, mas, o fato é que encantam e fascinam aos nossos olhos, distraidamente, capitalistas (sic).

Confesso que ficou um sabor amargo na garganta, visto que não tive tempo disponível para apreciar a rica culinária regional e, principalmente, não provei o sabor dos beijos das manauaras, sendo que um executivo que viajou comigo me dissera, ainda no avião: “as mulheres vão atacá-lo, meu caro, são nove pra cada homem”. Apreciei, sim, o visual de umas gatonas esculturais e curvilíneas, mas, infelizmente, a agenda não deu folga. Uma pena...

Após vivenciar o caos aéreo incluindo o extravio de minha bagagem que ficou retida em Guarulhos, o celular tocou no aeroporto de Brasília e me avisaram que minha bagagem chegaria até as 15h do dia seguinte na portaria do Edifício Tocantins, onde moro em Goiânia. Ufa, me senti aliviado – tive um orgasmo mental! Convicto de que ao retornar a Manaus vou curtir tudo que tenho direito: as belas mulheres, a cozinha à base do tambaqui na brasa, o mágico banho nos Igarapés para lavar a alma, vivenciar o xamanismo da Ayuasca numa comunidade indígena e nas mirações encontrarei as inspirações para o próximo livro, visitarei o legendário e secular Teatro Amazonas e, de quebra, abraçarei meus confrades da Academia de Letras do estado do Amazonas. E meu poetamigo Thiago de Mello? Aí já é outra história: eu não sei se ele está vivo. Maktub!

(*) Eugenio Santana é escritor, jornalista, ensaísta, publicitário, copydesk, verse maker; self-mad man. Autor de livros publicados; Sócio efetivo da Associação Catarinense de Imprensa (ACI) e da Associação Fluminense de Jornalistas (AFJ). Ex-superintendente de Imprensa do Governo do Rio de Janeiro.